sexta-feira, 18 de maio de 2007

De minimis?

É curiosa a miscigenação política e ideológica, revelando-nos o carácter camaleónico de muitos dos nossos protagonistas políticos. Navegar na crista da onda, camaroeiro na mão porque há sempre espaço no bolso onde se guardam os créditos para o futuro. Apoiar Durão Barroso, Nogueira Pinto ou António Costa, qual é a diferença? Ser daltónico é uma qualidade preciosa para qualquer proto-protagonista político. Ser centrista, de esquerda, de direita, de centro-esquerda, de centro-direita, de centro-qualquer-coisa, moderno ou novo, que interessa? O que interessa é que o rótulo cole, que os necessitados finjam acreditar e os que discordam se calem. Assim está a nossa política. Da lama mais profunda das ideias lá vão surgindo as pontas do verme autoritário. Meter na ordem, ter pulso firme, dar rumo a, palavras de ordem que apelam às reminiscências da nossa infância política, às memórias da apagada e vil tristeza de um Estado que se dizia Novo e era velho.

Os nossos políticos são como as maçãs. Há-os de primeira, segunda e terceira escolha. Dizem os ingleses que uma maçã podre apodrece todas as do barril. Se só houver uma podre estaremos com sorte?

Medeiros Ferreira, com a sabedoria que a idade sempre traz, aflora esta mesma temática com a fineza que o caracteriza:

“Transformismo político

Foi uma prática nacional nos últimos anos da Monarquia Constitucional. Em princípio é animada pelo vencedor eleitoral que recruta no campo da oposição, como se verifica agora em França com o governo Fillon. Entre nós há uma variante que se está a aplicar ainda antes das eleições: as próprias listas candidatas e seus mandatários já tendem para o arco-íris. Assim ninguém perde.”

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